A professora, jornalista e poeta nasceu em 1889 em Caldas Novas e será homenageada, in memoriam, no Câmpus Goiás
A aprovação do título de Doutora Honoris Causa da UFG (in memoriam) à professora, jornalista e poeta negra, Leodegária Brazília de Jesus, foi concedido pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFG nesta última sexta-feira (21/07), no auditório da Biblioteca Central do Câmpus Goiás. A proposta de homenagem foi apresentada em 29 de novembro de 2022, no Câmpus Goiás, em Sessão Extraordinária do Conselho Gestor.
A pauta única foi a apresentação da proposta para conceder o título de Doutora Honoris Causa da UFG (in memoriam) à professora, jornalista e poeta negra, Leodegária Brazília de Jesus. A homenagem foi apresentada em conjunto pela Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas (UAECSA) e pela Unidade Acadêmica Especial de Ciências Humanas (UAECH), ambas do Câmpus Goiás, e pela Faculdade de Direito (FD), do Câmpus Colemar Natal e Silva da UFG, em Goiânia.
A sessão foi presidida pela reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, que compôs a mesa junto à diretora do Câmpus Goiás da UFG, Margareth Pereira Arbués, e a secretária-executiva, Cássia Regina Pereira Rosa.
A publicação do título de Doutora Honoris Causa a Leodegária de Jesus será feito no dia de seu aniversário, em 8 de agosto, em cerimônia na abertura das comemorações dos 125 anos do curso de Direito da UFG.
Leodegária de Jesus nasceu em 1889 em Caldas Novas, mas ainda adolescente se mudou para a Cidade de Goiás, para estudar no Colégio Sant'Ana. Ao longo de sua vida, atuou incansavelmente no desenvolvimento da educação escolar em Goiás, na defesa da literatura e da imprensa livre. Além disso, destacou-se como poeta, tendo publicado dois livros, e fundou O jornal A Rosa, ao lado de Cora Coralina. Leodegária morreu em 1978, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
No parecer apresentado, foi destacado que o título de Doutora Honoris Causa a Leodegária de Jesus é uma forma de reparação histórica por ela ter sido impedida de cursar Direito por questões raciais e perseguições políticas. “Reconhecer a grandiosidade dos movimentos realizados por Leodegária Brazília de Jesus nos aproxima de uma reparação necessária e também nos reposiciona, viabilizando-se assim a oportunidade de colocarmo-nos contra um perverso processo de apagamento de que ela foi alvo, reinserindo-a em ambientes das quais nunca deveria ter sido excluída”, diz o parecer.
O grupo que foi favorável ao parecer de concessão do título de Doutora Honoris Causa a Leodegária de Jesus foi composta pelas professoras Margareth Arbués, Luciana Dias, Camila Caixeta, Karla Hora e Nyuara Araújo.
Confira dois de seus poemas:
SUPREMO ANELO
Voltar a ti, ó terra estremecida,
E ver de novo, à doce luz da aurora,
O vale, a selva, a praia inesquecida,
Onde brincava pequenina outrora;
Ver uma vez ainda essa querida
Serra Dourada que minh’alma adora;
E o velho rio, o Cantagalo, a ermida,
Eis o que sonho unicamente agora.
Depois… morrer fitando o sol no poente,
Morrer ouvindo ao desmaiar fagueiro
Da tarde estiva o sabiá dolente.
Um leito, enfim, bordado de boninas,
Onde dormisse o sono derradeiro,
Sob essas verdes, plácidas colinas.
MEU DESEJO
Não quero o brilho, as sedas, a harmonia
Da sociedade, dos salões pomposos,
Nem a falaz ventura fugidia
Desses festins do mundo, tão ruidoso!
Prefiro a calma solidão sombria,
Em que passo meus dias nebulosos;
Sinto-me bem, aqui, à sombra fria
Da saudade de tempos mais ditosos.
Eu quero mesmo, assim, viver de lado,
Das multidões passar desconhecida,
Me alimentando de algum sonho amado.
Nada mais quero, e nada mais aspiro:
Teu casto afeto que me doira a vida,
Meus livros, minha mãe e meu retiro.
Fonte: Ascom Câmpus Goiás - Universidade Federal de Goiás - UFG
Foto: Reprodução/ UFG