Radialista e letrista denunciam intimidação de PMs por fazer faixas com crítica e pergunta a Bolsonaro, em Caldas Novas

Policial / 180

Eles disseram que os policiais citaram Abin e a Polícia Federal como forma de alertá-los sobre a situação. Nas redes sociais, várias pessoas comentaram em publicações sobre o caso. PM disse que “não cerceou o direito à livre ‘manifestação’.
 
O radialista Andreazza Joseph Gomes e o letrista Salmeron de Oliveira relataram terem sido vítimas de intimidação de policiais militares em Caldas Novas, no sul goiano. Segundo eles, PMs afirmaram que a confecção de duas faixas - uma com uma crítica e outra com uma pergunta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - poderia ser considerada crime de difamação, calúnia e injúria.
 
Em nota, a Polícia Militar disse que “não cerceou o direito à livre manifestação” durante a visita do presidente a cidade de Caldas Novas. A Corporação disse ainda que recebeu uma denúncia de que manifestantes colocariam faixas na parte interna do aeroporto. O que não é permitido devido ao cumprimento das normas e segurança do local para evitar acidentes. Na nota, a PM disse ainda que orientou os manifestantes que não colocassem as faixas e que eles retiraram o material (veja a íntegra ao final do texto).
 
Segundo eles, um dos policiais citou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Polícia Federal (PF) na tentativa de intimidá-los. “Falaram que estavam ali cumprindo ordens da Abin e da PF”, disse o radialista.
 
Já o letrista contou que ouviu o policial dizer que a confecção dessas faixas poderia “dar Abin e PF”. “Vieram para intimidar mesmo. Uma visita desnecessária”, disse.
 
A reportagem entrou em contato, por e-mail, com a Abin e a PF em Goiás e espera resposta sobre o pedido de posicionamento.
 
Levado no carro de polícia
 
Os dois homens que denunciaram a situação disseram que a pressão começou quando os policiais visitaram um terceiro rapaz – que preferiu não ser identificado – e o levaram na viatura até a casa do letrista.
 
“Eles ficaram entre 40 minutos e uma hora aqui na porta com o giroflex ligado. Eles me chamaram na porta, me perguntaram se eu estava com as faixas, falaram que poderia ‘dar Abin e PF’, que era crime, mas eu sabia que não tinha nada errado”, contou o letrista, Salmeron.
 
Também segundo ele, o homem que os PMs pegaram e mantiveram no carro por cerca de uma hora não tem envolvimento com a ideia para as faixas confecção delas, teria apenas cedido um espaço para que Salmeron trabalhasse. A criação foi um pedido do radialista.
 
“Eu comecei nas redes sociais perguntando o que as pessoas gostariam de dizer ao presidente e foram surgindo várias perguntas. Falei que as melhores eu iria colocar em faixas. [...] Eu até postei o início do trabalho, quando estava escrito ainda só ‘Bolsonaro’ em uma das faixas”, contou Andreazza.
 
Ainda de acordo com o radialista, pouco depois de as faixas terem ficado prontas e ele tê-las buscado no local em que foram feitas, ele começou a ouvir de várias pessoas na cidade que a polícia estava procurando por ele.
 
“Foi ficando sério, porque não eram uma ou duas, eram várias pessoas falando”, disse.
 
Andreazza contou que os policiais buscaram o dono do espaço no local onde as faixas foram feitas, foram para a casa do letrista, conversaram com ele e, por telefone, o próprio radialista falou com os policiais.
 
“Tenente falou comigo ao telefone dizendo que estávamos promovendo arruaça, fazendo calúnia, injúria, difamação. [...] Falei que não adiantava falar daquele jeito, que se tivesse algum crime, que tenho certeza que não tinha, era para eles virem atrás de mim e não deles [dono do espaço e letrista]. Passei meu endereço, mas eles ficaram lá”, disse o radialista.
 
De acordo com ele, depois de cerca de uma hora à frente da casa do letrista com o dono do espaço de trabalho dentro da viatura, os policiais foram embora.

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Nota na íntegra Polícia Militar de Goiás
 
A propósito da solicitação de nota, a Polícia Militar do Estado de Goiás informa o que se segue:
 
- A PMGO esclarece que não cerceou o direito à Livre Manifestação, na cidade de Caldas Novas, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro, conforme informação divulgada ao veículo de comunicação em questão;
 
- A corporação informa que, na última sexta-feira, 28/08, foi feita uma denúncia de que manifestantes colocariam faixas na parte interna do aeroporto da cidade, o que não é permitido devido ao cumprimento das Normas de Segurança do local;
 
- A PMGO salienta que orientou os manifestantes que não colocassem faixas no local pretendido (cabeceira da pista do aeroporto) por medida de segurança, uma vez que poderia provocar grave acidente. Após a orientação, os próprios manifestantes retiraram o material do local.
 
- Por fim, a PMGO reconhece e apoia o direito da Livre Manifestação, mas destaca a necessidade de obedecer os protocolos de segurança estabelecidos para garantir a proteção de toda população.