Geólogo Desmistifica Origem das Águas Termais de Caldas Novas e Garante: Não Há Risco de Resfriamento

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Pesquisador Fábio Haesbaert explica o fenômeno natural que abastece a maior estância hidrotermal do mundo e detalha o rigoroso sistema de monitoramento que garante a sustentabilidade do recurso

Com a experiência de quem estuda há anos os aquíferos da região, o geólogo Fábio Haesbaert oferece uma explicação definitiva sobre as águas termais de Caldas Novas e afasta qualquer temor sobre seu esfriamento ou esgotamento. Em entrevista ao Jornal Opção, o especialista foi categórico: "Não está esfriando, isso é um absurdo. A temperatura das águas é estável". Ele esclarece que eventuais percepções de água mais fria referem-se apenas às piscinas dos parques, que podem perder calor para o ambiente quando ficam abertas por muito tempo, e não às nascentes e poços, que mantêm sua temperatura original sob constante monitoramento. 

Haesbaert desvenda a origem do fenômeno, que é puramente natural: as águas são provenientes da chuva que se infiltra na Serra de Caldas e desce por fraturas da crosta terrestre até profundidades superiores a mil metros, onde são aquecidas pelo calor do interior da Terra, um processo conhecido como gradiente geotérmico.

O geólogo também desfaz uma antiga crença científica. Durante muito tempo, acreditou-se que a Serra de Caldas fosse um vulcão extinto, uma hipótese registrada por naturalistas franceses e portugueses no século XIX devido ao seu formato elíptico visto de satélite, que se assemelha a uma cratera. No entanto, Haesbaert explica que essa teoria foi descartada pela ausência de rochas vulcânicas na região. O formato atual da serra é resultado de processos tectônicos antigos e da erosão ao longo de centenas de milhões de anos, sem qualquer relação com vulcanismo. 

A cidade está assentada sobre dois grandes reservatórios: o Aquífero Araxá, mais raso, com águas entre 32°C e 44°C, e o Aquífero Paranoá, mais profundo, cujas águas ultrapassam 50°C – temperatura tão alta que pode causar queimaduras se usada diretamente, necessitando de mistura com águas do Araxá para atingir a temperatura ideal nos parques e hotéis.

Essas águas, que são minerais e termais com presença de bicarbonato, magnésio e uma leve radioatividade natural benéfica, têm uso terapêutico registrado desde antes de 1600. Hoje, toda a exploração é rigorosamente controlada por telemetria e acompanhada em tempo real pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e pela Associação das Águas Termais (Amat).

"Caldas Novas é um exemplo para o Brasil inteiro. O controle é rigoroso e tecnicamente fundamentado. Nenhum poço pode bombear além do limite autorizado", afirmou o geólogo. Um exemplo da resiliência do sistema foi observado durante a pandemia de Covid-19: com a redução do bombeamento, o lençol freático subiu e antigas nascentes voltaram a jorrar no Ribeirão de Caldas, comprovando a capacidade de recuperação do aquífero.

Questionado sobre o impacto do intenso turismo, Haesbaert foi enfático ao afirmar que a atividade é sustentável devido ao uso ordenado e controlado, um cenário completamente diferente da exploração desordenada das décadas de 1960 e 1970. Sobre crícias de desperdício, ele explica que a água, após o uso, é tratada e pode ser reutilizada para fins como lavagem e irrigação, graças a um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público. Ele ainda ressalta que a poluição histórica do Ribeirão de Caldas era causada por esgoto doméstico, e não pelas águas termais, que, na verdade, ajudavam a diluir os poluentes. 

Coordenador desde 2005 do projeto Preserva das Serras, em parceria com a USP e a Universidade Técnica de Berlim, Haesbaert finaliza com uma mensagem de segurança: "O estudo é permanente. Não existe risco de resfriamento, não existe risco de esgotamento. As águas de Caldas são um patrimônio natural e estão sendo geridas com responsabilidade e ciência".

Fonte: Jornal Opção
Foto: NASA - Serra de Caldas Novas